“É no campo da vida que se esconde um tesouro.

Vale mais que o ouro, mais que a prata que brilha.

É presente de Deus, é o céu já aqui, o amor mora ali e se chama família.”

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

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Morrer é ridículo

Ontem acabei não passando aqui no blog. Além de estar extremamente cansada por não ter dormido a noite inteira, ainda estava com a cabeça meio avoada, pensando longe e não conseguia me concentrar em mais nada, além do que estava pensando, então, nada da inspiração vir na cabeça para eu escrever.
E como não gosto de escrever qualquer coisa, nem as pressas,  preferi deixar para hoje.
Gostaria de poder escrever hoje só coisas boas, mas infelizmente hoje não vai ser assim...
O PCR- Proteína-C Reativa da Camila deu alterado, ou seja, a pitchula está com infecção.
Elaia, viu???
Elaia...

Camila começou com outro antibiótico e só Jesus sabe quando vamos embora...

Mas tudo bem...Como disse na terça-feira aqui no blog, não vou mais (alías, nem faço mais) reclamar por estar aqui.
Nada acontece por acaso e tenho conhecido pessoas neste último mês que eu jamais teria conhecido se não estivesse aqui.
Algumas eu gostei, outras eu amei e tem ainda uma ou outra que detestei conhecer... Hospital tem gente chata tb!!!!
Mas enfim, experiências que levarei, néh?
Mães novas, amigas novas, médicos novos... Nestes últimos 30 dias, algumas pessoas marcaram nossas vidas para sempre!
O Fabrício Conduta é um! Ai se nao falo dele, vou levar uma bronca que nem levei ontem....
Pronto: demonstração de carinho e amizade.

Entre essas pessoas, também está a Reinalva, mãe da Natacha que conheci neste último internamento.
Natacha tem 16 anos e é portadora de Paralisia Cerebral.
O quarto que ela estava fica bem na frente do meu. Deixávamos a porta aberta, para ficarmos tricotando e atravessando o corredor para uma ajudar a outra.
Hoje, infelizmente a Natacha teve um parada cardiorespiratória. Essa mãe entrou em desespero. Do meu quarto eu via tudo e não podia fazer nada.
Pedi para a enfermeira para poder entrar no quarto e trouxe ela quase que arrastada para o meu. Ela sentou no sofá e choramos as duas juntas.
Graças a Deus, consegiram reanimá-la, mas ela foi para a UTI e está entubada.
Perdi minha companheira de quarto e me restou apenas a vista para um quarto vazio. Me bateu uma tristeza por estar me sentindo sozinha.
Tenho a Monique que também está aqui, mas está no andar superior, então acabei ficando só e  a Camila.
Como hoje fiquei esperando uma visita que disse que viria mas me deu os canos, a tarde resolvi tirar um cochilinho, pois passei mais uma noite acordada pelo gritos da Camila.
Deitei e em menos de 5 minutos, devo ter apagado.
Acordei uns vinte minutos depois com os gritos de uma mulher no corredor. Acordei tã atordoada e meio abobada pelo susto, que não sabia onde era a porta, mas ja sabia que boa coisa não iria ver quando abrisse a porta. Dito e feito: a mãe descabelada, gritando por ajuda e eu fui até ela. 
Coitada... dizia que o filho estava virando os olhos, chacoalhando os braços e vomitando sangue. Fomos atrás da enfemeira e ela entrou correndo no quarto. Pegou o menino no colo e eu fiquei junto com outras mães que foram chegando, alí tentando acalmá-la.
Mas infelizmente não havia mais nada que pudesse ser feito e seu filho veio ha óbito alí, na nossa frente.

Eu fiquei mal... mal mesmo! Até agora ainda estou com a cena na cabeça.

Só que como sempre dizem que numa situação sempre existems dois lados, nesse encontro das mães no corredor do hospital, acabei conhecendo a Lis, que é prima de uma garotinha que está aqui no meu andar.
Uma fofa de pessoa, depois de termos passados momentos difíceis, fizemos uma amizade e em bem curto tempo.
Ela me ajudou a dar banho na Camila, ja trocamos telefone, FB e um monte de coisa, fora que ela disse para eu ligar pra ela toda vez que estiver com a Camila no hospital, pois ela virá nos ver.
Tirei até uma foto da Camila inchada ao lado dela.

Minha amiga Reinalva foi embora e a Lis entrou nas nossas vidas...


Também recebemos a visita das amigas Lisiane e Monique.


E num dia onde acompanhamos de perto mais uma mãe que perdeu seu filho, li um texto do Bial, onde ele escreveu sobre a morte do Bussunda.
Vale a pena ler e refletir:

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do Casseta & Planeta deram seus depoimentos.

Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada.

Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.

Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e perplexidade, que é mesmo o que a morte causa em todos os que ficam.


A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo.


Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da
tarde, morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.

A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu.
Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente.

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis.


Qual é? Morrer é um cliche.


Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em

casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas
cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e

morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito.
Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo.

Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz.

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.


Só que esta não tem graça.

3 comentários:

  1. mas o menino morreu do que? do nada?

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  2. Oi Jonathan, tudo bem?
    Ele era transplantado, mas infelizmente ocorreu a rejeição.
    Lamentável e muito triste...

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  3. Não vieram me buscar e eu voltei correndo pra ler essa postagem. Realmente morrer é ridículo, eu já perdi uma filha e dói demais. É uma piada totalmente sem graça. Adorei sua postagem e acho super interessante que vc entenda o propósito da nossa vida aqui na Terra. Que Deus proteja vc e sua filha e que as livre de uma piada sem graça como essa. Bjokitas *Ü*

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